quinta-feira, 22 de abril de 2010

Para perguntas perenes, resposta perene ou Dúvidas perenes tem data de validade? por Alba Querino

Para perguntas perenes, resposta perene:

EU NÃO SEI.

O que eu sei, é que esses ciclos, essas perguntas que existem dentro de mim, por cima de mim, do lado, bem lá embaixo, fazem com que eu me reinvente todo santo dia, todo insano instante...E vou me descascando como uma cebola, algumas questões parecendo respondidas, outras sendo realmente respondidas (as mais superficiais), outras nem tanto...e eu vou me espantando, no sentido mais socrático, nessa aquarela que vai surgindo enquanto vou olhando essas perguntas todas indo e vindo, ficando e desaparecendo na minha frente. Mas na verdade, se elas acabam, se elas somem, se as respostas que encontro, respondem...Eu não sei.

Eu me lembro uma vez, em viagem com um grande grupo de amigos ‘buscadores’, gente que viajava para meditar juntos, para se explorar nessas perguntas abissais, aconteceu um acidente muito interessante: nós fomos a uma cachoeira, lá na Chapada Diamantina, linda, alta, dava para ver lá de cima o abismo, o horizonte. O cara do caminhão que nos levou quis, gentilmente, nos deixar na beira da água...íamos na boleia...Pois bem, meditamos, entoamos o OM SHANTI OMMMM, coisas lindas aconteceram, paz se apresentou para cada um de nós, maravilhamento com a beleza da natureza. Chegando a noitinha, hora de voltar para a pousada. Subimos no caminhão e...nada. Atolamos na gentileza do caminhoneiro, coitado! O caminhão não saia dali como jumento empacado. Carrega, empurra, quarenta pessoas pacificamente relaxadas, tentando desatolar! Noite na mata, só os vagalumes e os sons da chapada. Lá pelas tantas, resolvemos caminhar o curso do rio, o caminhoneiro gentil nos guiando. Passamos por mato, por água, atravessamos riacho, sentindo o chão, sem enxergar muita coisa. No instinto e perdendo o medo, perdendo as perguntas abissais...Não havia nada além de sentir o chão, e caminhar. Nenhuma garantia também. E foi uma das experiências mais transformadoras de minha vida. Quando percebi que, realmente, a vida é viva, selvagem, inesperada e cíclica mesmo. Paz meditativa se seguiu de instinto de sobrevivência, que se seguiu de felicidade profunda ao tomar uma sopinha às duas da manhã, no quentinho da pousada, todo mundo sem conseguir dormir de tanta adrenalina e alegria de simplesmente estar de volta ao lar.

As perguntas? As perguntas são um truque para a gente se reinventar nos momentos mais vivos – nem sempre os mais alegres – da vida da gente! A terapia é ótima para abrir um espaço de reconhecimento das nossas perguntas (poder enxergar as cores da nossa aquarela lá em cima) e preparar para o silêncio. O silêncio é o espaço, nessa busca pela resposta, de se deleitar com a paz da ausência das soluções, e de repente, até das perguntas. Mas, no entremeio, a gente vai se divertindo e se reinventando com as fictícias respostas loucas para aquilo que para mim não se respondeu, mas é FENOMENAL! Essa viagem cíclica é fenomenal, não é? Faz você mais quietinha, mais observadora e mais sensível! Nesse momento você não é a mais terna, poderosa e moderna? Sensível (vulnerável e aberta), pacífica (paz é poder) e reinventada, nova (mais moderna, não pode...).