
Ele responde ainda chorando muito: - Vó, agora eu estou sofrendo, chateado e pouco me importa que tenham crianças que gostariam de estar no meu lugar. Eu também gostaria de estar no lugar de uma criança que não fosse viajar agora, e daí? Cada um com seu sofrimento, ué? Por acaso a gente sofre porque que quer, é? Ou por acaso existe um medidor de dor? Se existe, mede a minha agora e você vai ver que é muito, muito grande...
E o pequeno ensina ao grande...
Eu levei aproximadamente 32 anos para descobrir que eu não tenho culpa... Culpa pela pobreza e miséria, culpa de ter nascido numa família economicamente estável, culpa de ser branca, culpa por ter pai e mãe, culpa por ter uma vida boa e feliz, culpa por não ser uma pessoa caridosa. Culpa, culpa, culpa e mais culpa. Passei muitos anos dentro de uma bolha enorme, densa e pegajosa de culpa...
E embora digam que onde não há culpa não há moral, o fato é que esta imensidão de culpa não me levou a lugar nenhum, não me tornou uma pessoa melhor, não me transformou...
Livrei-me desta culpa quando passei por uma dor quase insuportável e percebi o seguinte: Porque eu aceito a dor e sofrimento que existem em minha vida como natural, normal, parte da vida e até merecido em algumas ocasiões e não aceito as facilidades e felicidades da mesma forma?
Agora sim, sem culpa, sem este peso enorme, consigo passo a passo, devagar, avançar. Amar cada pedacinho de mim, cada característica por mais estranha e bizarra que possa ser ou parecer, compreender todas as minhas personagens... e, no meio deste amor, deste auto-perdão, ver desvanecer, sumir ou, como sempre fala minha amiga Alba “dissolver-se nesta aceitação”
Agora sim, aprendendo a amar a mim incondicionalmente, aprendo também, pouco a pouco a amar o outro, sentir a verdadeira compaixão. Sem culpa, e com total sintonia...
E vocês, hem? Sentem esta "bendita" culpa? Como lidam com isso?