segunda-feira, 19 de julho de 2010

Feminizar o mundo é possível. Por Alba Querino


Esse é um post surpreendido (ainda me surpreendo com isso, não estou anestesiada) com a crescente violência contra a mulher. É com muita tristeza que vejo os noticiários recheados de atos criminosos que delatam, mostram com tamanha crueldade e clareza o que muitos pensam a respeito das mulheres, como se sentem a respeito delas e como agem a partir dessa idéia enraizada tão profundamente sobre a mulher como um ser de menor valia, de quem se pode dispor, usar, abusar, matar.

Um grupo se faz de indivíduos. Não adianta tentar escapar através da defesa frágil de que não estamos diretamente envolvidos com esses atos que nos lembram a animalidade dos humanos. Sim, eu não matei, eu não violei mulher alguma. Mas de forma indireta, fazendo parte desse grupo social, em pequenos atos, podemos sem muita consciência e sem a menor intenção, muitas vezes, reforçar, dar continuidade, permitir esse abuso.

Qual o significado de ser mulher numa sociedade em que: ‘Se quero, ela não será mais de ninguém. Bato, estupro, mato. Se não quero, me livro dela. Bato, estupro, mato. Se ela se veste assim, assado; se ela sai com muitos homens, bato, estupro, mato.’ Bato, estupro, mato???? Cuspo, xingo, não assumo? Segrego, desqualifico, uso, maltrato??

Essa é a fala silenciosamente ouvida quando nos deparamos com os casos Bruno X Elisa, da advogada Mércia Nakashima, e da adolescente de 16 anos que escapou também do ex-namorado. Entre outros, entre tantos outros, infelizmente.

Ei, ei, ei! Stop! Pare!

O que se pensa a respeito da mulher, do seu corpo, dos seus sentimentos, da sua liberdade, do seu valor? Isso me preocupa muito...como mulher, como profissional, como espírito!

Uma reflexão que não posso pedir aos próprios algozes, não nesse momento de consciência que eles estão agora.

Na verdade, os vejo como vítimas em última instância, vítimas de si mesmos que devem responder juridicamente por seus atos; mas pessoas que se encontram nesse nível de bestialidade só podem estar sob profundo sofrimento de alma. Eu não sei quem eles são. Até o momento da decisão judicial final, eles são apenas suspeitos. Eu só sei com clareza a respeito dos fatos: a violência, morte ou desaparecimento cruéis e nada justifica isso!

Peço uma reflexão atenta, profunda a nós mulheres a respeito de como nos pensamos, como educamos nossos filhos em relação às mulheres, como nos relacionamos com os nossos parceiros. Como nos relacionamos com nosso corpo, nossos sentimentos, nossa liberdade. Só vejo essa possibilidade de neutralizar esse legado triste da história emocional da humanidade: através de nossos atos femininos.

Não se trata de feminismo, não se trata de ódio aos homens, nada disso. Mas de cada ato nosso mínimo que embasa essa situação. Por exemplo, educo o meu filho diferente da minha filha? Existe uma divisão nas atividades de casa que privilegiem o meu filho? Alimento a idéia de posse e propriedade na minha relação? Me coloco como prêmio, objeto? Meu corpo é o que me define como ser de valor? Desrespeito outra mulher por causa dos homens? Ignoro minha inteligência? Existe prazer em ser quem sou?

Olha, eu estou muito preocupada com tudo isso que é vitrine na imprensa....eu gostaria de poder assistir outras notícias, outros valores, outras opções...Esses casos possuem tantas tristes implicações...Vejo esse blog como uma das atitudes positivas nesse universo de coisas, portanto, sejam nossas parceiras, sejam nossos parceiros nessa consciência de humanizar as relações, espiritualizar essas relações, ‘amorizar’ essas mesmas relações. Feminizar o mundo é possível...

A tal culpa... por Mariana Chetto. Novamente?! Sim, novamente!!


Perdoe-me, leitor, mas vou quebrar todas as regras deste blog e fazer um post extra sobre o tema que eu mesmo provoquei. Ridículo, né? Mas é que depois que li os textos das outras TPM’s e os comentários de alguns leitores, achei que, talvez, eu não tenha sido clara o suficiente. A verdade é que senti uma necessidade incontrolável de acrescentar algumas palavrinhas sobre o tema; principalmente depois de ler o trecho abaixo no texto de Bia:

"...não fazer nada para que as criancinhas que morrem de fome na áfrica parem de morrer de fome. Não acredito que seja correto viver a vida inteira sem contribuição alguma. E por acreditar nisso, quando não contribuo, me sinto culpada sim."
É exatamente desta culpa que eu estava falando. De me sentir culpada por acreditar que eu deveria estar fazendo alguma coisa para mudar o mundo e não estou. É aí que está o X desta questão para mim. O problema é que sempre achava que deveria me dedicar um dia por semana a um orfanato ou passar uma tarde num hospital carente e coisas deste tipo. Afinal o que é um dia ou uma tarde por semana? Tanta gente faz isso, ué? Mas a verdade é que nunca consegui fazer e fiquei neste dilema de fundir a cuca por anos a fio. Até que percebi o seguinte o fato é que o que parece fácil, simples para algumas pessoas é MUITO para mim... e eu não queria admitir que não sou tão boa quanto outras tantas pessoas, tão desapegada... Definitivamente eu não podia admitir isso...

Bom, quando finalmente reconheci que ainda sou assim uma pessoa bem "ruinzinha”. Comecei a fazer coisas que para alguns podem ser bobas, mas para mim são um grande esforço - mas são possíveis. Tenho tentando, e graças a Deus, muitas vezes conseguido pensar no outro que está ali do meu lado, no meu dia a dia. Meus familiares, meus amigos, meus colegas de trabalho, o guardador de carros, o menino da sinaleira etc. Venho me esforçando para tratá-los sempre com respeito, com compaixão, me colocar no lugar deles... Prestar atenção em suas necessidades de apoio, de compreensão, de diálogo etc. Me esforço para não odiar as pessoas no trânsito, para não perder tanto a paciência com minha filha, com meu marido... Me esforço para nunca negar a ajuda a quem me pede... Como disse sei que isto pode parecer bem pouco, mas para mim, e Deus sabe que não é fácil admitir isso, ainda é tudo que consigo tentar fazer... E assim, enfim, parei de me sentir culpada por não estar fazendo nada para impedir que criancinhas morram de fome nem aqui, nem lá na África. E peço a Deus, todos os dias, para abençoar estas pessoas generosas que realmente fazem alguma coisa para mudar isso...

De minha parte sinto que, a cada dia, estas tarefas que me propus a fazer se tornam um pouco mais fáceis e tenho certeza que uma dia não exigirão de mim esforço algum. Serão naturais. E aí, quem sabe, eu esteja pronta para tentar algo realmente maior... Tomara!