Será porque esta palavra, no nosso universo, sempre esteve relacionada à fraqueza, fracasso? Ou será que é porque desistir é abandonar o controle?
Fraqueza. Fracasso. Não. Desistir nem sempre é isso. E sim. É sempre abandonar o controle (se você acredita que está no controle...). Como muito bem disse Alba, desistir pode ser entregar... No melhor dos seus sentidos. E para isso, amigos é preciso ser muito forte e corajoso.
Hoje coincidentemente (será?) li um texto em um blog que gosto muito: Mafalda Crescida . O texto era sobre sonhos recorrentes e a autora, Karina Cabral, descreveu um dos seus: "... estou em uma jornada, em um rali, em uma saga, não importa – qualquer coisa que demande muito esforço... Passo por várias provas... vou me cansando e não sei onde vou chegar, mas acabo vencendo cada etapa. De repente, me vejo diante de um abismo. E, quando vou cair nele, aparece uma corda para eu segurar... Quanto mais ando na corda, mais vejo que ela não acaba… Fica mais longa e mais áspera, machucando as minhas mãos e me desestimulando. Olho para o abismo, ele parece fundo, escuro e assustador. Mas persisto e vou segurando na corda. Segurando, segurando, segurando… Com muita força. Penso que não posso soltar, não depois de tudo que passei até ali; não posso desistir, cair e morrer, o tombo seria irrecuperável. Mas chega uma hora que não aguento mais e decido (note bem, decido) soltar a corda. Só que, ao cair, vejo que aquele abismo era uma ilusão; e que na verdade, estou a menos de um metro de um chão...”
O trecho acima é uma ilustração quase perfeita desta situação. Só faria um correção: o abismo não é ilusão. O abismo é real. Estar livre na imensidão é a realidade de cada um de nós. A corda é que é ilusão. Porque a corda é o controle, é a ilusão de que dependemos dela, precisamos dela... A corda definitivamente é ilusão...
Quantas e quantas vezes nos vemos numa situação extremamente dolorosa e sofrida, não só para nós, mas para todos os envolvidos, e simplesmente não conseguimos largar a corda? É medo, medo e medo. Medo do novo, medo do desconhecido, medo da escuridão. Medo de não estar mais no controle (a gente realmente acredita que está no comando, né?). O incrível é que quando largamos a corda, quando decidimos desistir e nos entregamos ao “Desconhecido” constatamos que o “abismo” nunca é o que parece...
Eu sei o quanto é difícil desistir... E sei disso porque eu vivi isso na mais difícil das situações. Eu desisti de um filho... Desistir de um filho?! Terrível se você pensar em desistir como fracasso e fraqueza, mas eu não fracassei com meu filho. Tenho certeza disso. Eu o amei (e amo). Estive ao seu lado até o fim, com toda intensidade que o amor maternal pode permitir. Eu tinha fé em sua vida. Eu acreditava que era pra sempre e nunca o abandonei, nem no último segundo. Eu disse sim a aquela vida todos os dias. Embora, eu sequer, entendesse o significado ( e só agora compreendo...). Nós tentamos tudo. Eu tinha a “certeza do dever cumprido, do amor carinhosamente dado”.* Não, eu não desisti no sentido que costumamos dar a esta palavra. Eu entreguei ao Desconhecido, ao Mistério ou simplesmente, como a maioria das pessoas chamam, a Deus. Não foi nada fácil. Nunca é fácil perceber que tudo tem um fim... Não que o fim seja o fim, mas é sempre um adeus e dar adeus a um filho é a mais difícil das desistências...
Mas foi preciso me jogar no abismo, na escuridão. E no fim de tudo, recomeçar. Não por que eu desejava, mas porque não há outra opção... Porque no fim de tudo sempre há o (re)começo. Por que a vida é uma espiral rumo ao Infinito...
*Palavras de Alba em um texto (Quando uma lua se põe, um grande sol renasce) que ela me presenteou a muito tempo atrás...