sexta-feira, 1 de abril de 2011

Desistências... Por Mariana Chetto


Porque desistir é tão difícil?

Será porque esta palavra, no nosso universo, sempre esteve relacionada à fraqueza, fracasso? Ou será que é porque desistir é abandonar o controle?

Fraqueza. Fracasso. Não. Desistir nem sempre é isso. E sim. É sempre abandonar o controle (se você acredita que está no controle...). Como muito bem disse Alba, desistir pode ser entregar... No melhor dos seus sentidos. E para isso, amigos é preciso ser muito forte e corajoso.

Hoje coincidentemente (será?) li um texto em um blog que gosto muito: Mafalda Crescida . O texto era sobre sonhos recorrentes e a autora, Karina Cabral, descreveu um dos seus: "... estou em uma jornada, em um rali, em uma saga, não importa – qualquer coisa que demande muito esforço... Passo por várias provas... vou me cansando e não sei onde vou chegar, mas acabo vencendo cada etapa. De repente, me vejo diante de um abismo. E, quando vou cair nele, aparece uma corda para eu segurar... Quanto mais ando na corda, mais vejo que ela não acaba… Fica mais longa e mais áspera, machucando as minhas mãos e me desestimulando. Olho para o abismo, ele parece fundo, escuro e assustador. Mas persisto e vou segurando na corda. Segurando, segurando, segurando… Com muita força. Penso que não posso soltar, não depois de tudo que passei até ali; não posso desistir, cair e morrer, o tombo seria irrecuperável. Mas chega uma hora que não aguento mais e decido (note bem, decido) soltar a corda. Só que, ao cair, vejo que aquele abismo era uma ilusão; e que na verdade, estou a menos de um metro de um chão...”

O trecho acima é uma ilustração quase perfeita desta situação. Só faria um correção: o abismo não é ilusão. O abismo é real. Estar livre na imensidão é a realidade de cada um de nós. A corda é que é ilusão. Porque a corda é o controle, é a ilusão de que dependemos dela, precisamos dela... A corda definitivamente é ilusão...

Quantas e quantas vezes nos vemos numa situação extremamente dolorosa e sofrida, não só para nós, mas para todos os envolvidos, e simplesmente não conseguimos largar a corda? É medo, medo e medo. Medo do novo, medo do desconhecido, medo da escuridão. Medo de não estar mais no controle (a gente realmente acredita que está no comando, né?). O incrível é que quando largamos a corda, quando decidimos desistir e nos entregamos ao “Desconhecido” constatamos que o “abismo” nunca é o que parece...

Eu sei o quanto é difícil desistir... E sei disso porque eu vivi isso na mais difícil das situações. Eu desisti de um filho... Desistir de um filho?! Terrível se você pensar em desistir como fracasso e fraqueza, mas eu não fracassei com meu filho. Tenho certeza disso. Eu o amei (e amo). Estive ao seu lado até o fim, com toda intensidade que o amor maternal pode permitir. Eu tinha fé em sua vida. Eu acreditava que era pra sempre e nunca o abandonei, nem no último segundo. Eu disse sim a aquela vida todos os dias. Embora, eu sequer, entendesse o significado ( e só agora compreendo...). Nós tentamos tudo. Eu tinha a “certeza do dever cumprido, do amor carinhosamente dado”.* Não, eu não desisti no sentido que costumamos dar a esta palavra. Eu entreguei ao Desconhecido, ao Mistério ou simplesmente, como a maioria das pessoas chamam, a Deus. Não foi nada fácil. Nunca é fácil perceber que tudo tem um fim... Não que o fim seja o fim, mas é sempre um adeus e dar adeus a um filho é a mais difícil das desistências...

Mas foi preciso me jogar no abismo, na escuridão. E no fim de tudo, recomeçar. Não por que eu desejava, mas porque não há outra opção... Porque no fim de tudo sempre há o (re)começo. Por que a vida é uma espiral rumo ao Infinito...

*Palavras de Alba em um texto (Quando uma lua se põe, um grande sol renasce) que ela me presenteou a muito tempo atrás...

Desistências por Bianca Chetto

Entendo a desistência que você fala como uma espécie de desapego. E sinceramente, acho que desistir, nesse sentido, é por muitas vezes a chave para se manter saudável. Acho bem mais difícil do que continuar tentando, desistir. Acho incrivelmente difícil principalmente por que “todo mundo” nos ensina que é errado desistir. E assim a desistência fica automaticamente, inconscientemente, relacionada à falta de coragem, a falta de vontade, “a falta de”.

É por isso que eu acho que a gente devia mandar “todo mundo” a merda com mais freqüência. Tanta coisa seria mais fácil se a gente pudesse mandar as pessoas a merda sem que elas se ofendessem, rs. Ok, esse é outro tema. Tanta coisa seria mais fácil se a gente tivesse a coragem de desistir com mais freqüência. As vezes tenho a impressão de que estou sempre insistindo em erros viciantes: hábitos que nos trazem pequenos prazeres, ou grande prazer por pouco tempo. E dessa forma, sempre desistindo das coisas que poderiam me trazer felicidade, se ao menos eu parasse de insistir nesses outros hábitos. Rs, talvez isso tenha ficado mais confuso do que deveria...
 
A verdade é que saber desistir é complicado. É muito difícil definir o que deixar de lado e quando. Principalmente o quando. É nessa parte que eu sempre me assusto. E se eu estiver desistindo cedo de mais? E se ainda tiver jeito? E se eu ainda puder concertar? E se ainda for possível ser feliz assim? E se eu ainda puder agüentar um pouco mais?

E, com a mesma intensidade, o meu outro eu não demora a indagar: Até quando? Até quando você vai esperar? Tentar até quando? Qual é o limite? Por quanto tempo se insiste em um caminho até se dar conta de que se escolheu o caminho errado? Existe um caminho certo? Rs. E então, se minha mente estiver clara, dou risada no final. Um riso íntimo, de mim pra mim. E é nessas horas, acredite não são muitas, que me sinto um pouquinho mais tranqüila.

Pois é nessas horas que percebo que não tem muito jeito a dar. Que vou estar sempre fazendo as mesmas perguntas. E que as respostas vão mudar todos os dias. E assim, aceito, mais uma vez, essas coisas que eu simplesmente não posso mudar. Desistir? Ah, eu bem queria. Mas como eu queria também continuar tentando. Rsrsrs Como não rir dessa minha situação?

Fico assim tentando desistir. E ao mesmo tempo não desistindo. Ou melhor, desisti sim. De escolher se eu quero ou não continuar tentando. (vcs estão entendendo alguma coisa, por que eu já nem sei mais... ) Vou indo. Indo. “Deixando acontecer”. Juntando minhas forças, me protegendo, me preparando... por que no fundo eu sei que o limite existe sim. And whether I shall cross this line or walk back from it, I know I must be sane and strong to push the sky or bend at its peak.


Ps.: Sorry Drix, sei que não te ajudei nadinha. rs