terça-feira, 18 de maio de 2010

Ser ou não ser.... por Bianca Chetto

Engraçado esse tema sair justamente agora. (Vi que outra TPM começou o texto assim tb, mas ja tinha escrito antes de ler, e é verdade pra mim tb, entao resolvi n mudar. :D) Por algum motivo, as pessoas têm falado muito sobre maternidade comigo, e já me vi respondendo a essa pergunta do “SER OU NÃO SER” algumas vezes nas últimas semanas. Em todas as vezes, respondi sem pestanejar: “Não.”

Não, não quero ficar com a barriga do tamanho de uma melancia. Não, não quero limpar cocô, meleca, e passar noites sem dormir. Não, comprar merendeira, farda, mochilinha e enxoval. Não quero levar ninguém pra escola, natação, cursinho de inglês, aulinha de futebol... Não, não quero passar a noite acordada esperando meu filho (a) chegar da ‘balada’, não, não quero deixar de ir pro cinema, pro boteco, pra esquina. Não quero ir falar com a professora, não quero ajudar com o dever. Não quero ter que voltar pra casa por que meu filho não pode ficar sozinho... Enfim, não quero ser mãe.

MAS, porém, contudo, todavia... Todas as vezes que eu disse em voz alta “Não quero ser mãe” e até mesmo enquanto eu escrevi o último parágrafo, eu senti um apertozinho. Como se uma forçinha incômoda comprimisse meu útero, e uma luzinha se apagasse no meu peito. É uma sensação de tristeza sem explicação, como se eu estivesse ferindo meu próprio corpo. E então me pego pensando: Seria o extinto maternal intrínseco à mulher se revoltando por estar sendo renegado? Ou seria uma força superior me dizendo que tem sim um filho no meu ‘destino’? As duas reflexões me parecem ridículas, no entanto, vez ou outra eu digo ‘não’ àquela pergunta, e sinto a mesma sensação. E toda essa confusão me leva a me perguntar: Por que não, cara pálida?

Imediatamente o segundo parágrafo me vem à cabeça. Mas a pergunta não se satisfaz e continua me enchendo. ‘Por que?’

Não sei. A verdade é que por mais que eu pense, não consigo escolher que vida eu quero pra mim. A verdade é que tudo que eu sempre quis fazer, hoje parece impossível. A verdade é que eu não quero casar, nem ter filhos, por que eu simplesmente não sei o que eu quero. Na minha cabeça ter filhos está diretamente, necessariamente, ligado a uma vida de privações e realizações que dependem 90% do sucesso dos meus filhos. Está ligado a uma vida em casa, contando historinha pra dormir, ouvindo historinhas de festinhas... Não me entenda mal. Do fundo do meu coração, acho essa vida maravilhosa. Vida simples é o máximo. Mas, meu Deus, será que eu, euzinha, ia ser feliz assim?

E os meus sonhos? E todas as outras coisas que eu sempre quis fazer? Será que tudo se resume a isso: sonhos, do tipo que se tem quando está dormindo. Será que todo ‘jovem’ tem todos esses sonhos e acorda um belo dia ‘adulto’ sentindo que na verdade agora ‘as prioridades são outras’? E se eu não quiser outras prioridades? Será que ‘crescer’ é isso? E se eu não quiser? (Momento Peter Pan)

Antes que eu fuja completamente do tema, vou simplificar: Tenho medo de escolher ser mãe. Porque tenho medo do que isso significa pra mim hoje. Tá, tá, tá, um dia eu vou pensar diferente. Mas HOJE, eu ainda penso como se tivesse 17 anos. Afinal, eu tenho 17 anos. Então, please, não exija mais da minha compreensão antes que entre em parafuso e não consiga concluir o texto. Como disse, tenho medo de ‘escolher’, por tanto, deixo mais essa pergunta em aberto. Ser ou não ser mãe? Não faço a mínima. De um jeito ou de outro, um dia vocês ficam sabendo. :D

Ser ou não ser? por Alba Querino


Ser ou não ser... eis a questão... Shakespeare, e agora?!
Ser ou não ser mamãe... um processo esse dilema dos dias atuais.
As mulheres se sentem fadadas a serem mães ainda hoje. Mas uma reportagem como essa é muito interessante porque permite à mulher não-mãe se expressar. As outras formas-mulher também são possíveis e possivelmente felizes.

É, Mari, eu concordo em número, gênero e grau com você. Não li a Muito, mas já gostei a partir do que você escreveu, da coragem de permitir às mulheres tantos papéis quanto elas queiram e a liberdade de escolher esses papéis com consciência.
Um bebê precisa de consciência. Precisa de alguém que se conheça e não repita cegamente a sua infância novamente, naquela criaturinha tão bela, tão inocente e tão devoradora. Uma criança é devoradora também, e isso não lhe tira a beleza. Devoradora de peitos, de atenção, de tempo, de carinho. E com legitimidade.
Tem uma autora, Elisabeth Badinter, que escreveu um livro fantástico a respeito da maternidade: O Mito do Amor Materno. É um soco no estômago a sua leitura. Ela fala de como a maternidade é uma construção cultural.

Eu concordo, em parte. Leia o livro, vai... vale a pena repensar...

Percebo a força da cultura na grande interrogação que vem sempre antes quando você ainda não teve filhos. Você não é uma pessoa boa, amorosa? Você é frustrada? Você é feia? Você não consegue um pai? O que há com você, mulher, que você não pariu? Não produziu filhos? Principalmente se você é casada. Existe aquele olhar perguntador...hã, hum, bem...cadê as crianças? Quando elas virão? Elas virão, não é? Ah, não faça isso...

Uma mulher pode gerar outros projetos, outras pessoas, outros sentimentos, outros nascimentos, sim. E é verdade que se conhecer bem para saber se você é mãe em seu coração é um bom caminho para poder ser MÃE do baby. Sem culpas, sem dar de mamar pensando no peito que pode cair e não será tão sexy depois (o que também não concordo, acho que um peito mamado conta uma história, e essa coisa plástica desses balões sempre para cima são uma ilusão perversa, mas isso é para outro post! Aliás, tem sempre tem um outro post nascendo).

Fase um: Uma mãe que pode perder noites e amanhecer sorrindo, uma mãe que tem tempo para conversar, cantar aos berros dentro do carro com os vidros bem abertos ou fechados; Que se deixa ser maquiada de noite depois de chegar do trabalho, cansada, e ficar com uma cara de vampira no final, e achar lindo! Uma mãe que come os restinhos de cada um e termina por não pedir o seu próprio bigmac. Uma mãe que pula na corrida de saco domingo de manhã na gincana da escola. Que põe em cheque a sua relação brigando com o parceiro por causa da coisa egoísta dele quando não quer deixar o menino dormir só hoje na cama entre a gente. Uma mãe que vai para a reunião do trabalho com as unhas pintadas de vermelho pela filhotinha aprendiz de manicure. Uma mãe que vai levar para tomar vacina e que chora só por causa daquela picadinha infeliz que aquela monstra da enfermeira deu no seu filho.

Fase dois: Uma mãe que viaja com as filhas adolescentes e volta a lembrar quando ela também suspirava com músicas românticas. E uma mãe que adoraria se seus filhinhos amados sumissem de vez em quando, só para ela poder não ser mãe por 15 minutos, enquanto ela se refaz. Mas não mais que isso. Uma mãe que agüenta a famosa fase de feder do filho adolescente que não quer tomar banho, não quer curar o chulé, não quer sair do banheiro há uma hora. Que gasta 1/5 do salário dela com telefonemas, e que ama o computador, a prancha de surf, o game e a mãe do colega mais que tudo! É eles amam as mães dos outros por um tempo...

Uma mãe, é uma mãe, é uma mãe... seja biológica, adotiva, tia, madrasta, vovó, dinda ou babá-mãe. Com vinte, trinta, quarenta ou cinqüenta anos. É uma mãe.

E uma mulher que escolhe não ser mãe é uma mulher verdadeira também, porque sabe seus limites, sabe ser mãe de si mesma.

Tem aquelas que não são mães, não porque não queriam, mas porque não aconteceu... Por diversos motivos que só a Existência sabe... e aí, é uma dor se ela se identifica com a ilusória família feliz da propaganda de margarina. Porque uma família é muito bom, mas não é de propaganda de margarina. A gente se desentende. A gente quase se esgana, de mentirinha, claro! Mas se esgana e a barriga ferve, quando as coisas acontecem de verdade.

Se a gente não pode ser mãe por causa da vida e não pelo desejo de não ser, é bom relaxar e aproveitar essa oportunidade de poder ter escolhas, outras funções além da maternidade. É escolher poder ser feliz. Ser feliz além do script. Não gosto dos scripts que se escrevem para todo mundo e quem não está nele é anormal, tem inveja ou engorda. Parece sutiã com número errado! Não. Ser livre para ser seu eu mesma é a escolha de maior felicidade que a gente pode se dar. É o rugido do leão quando descobriu que não era ovelha. Um rugido maravilhoso, uma energia só.

Pessoalmente, sempre quis ser mãe. Igual a Dri. Até descasei porque eu e meu amado nos desencontramos nesse desejo, na época. Mas sempre pensei que criança não precisa de marido nem de esposa, mas precisa de mãe e pai.

Hoje, é uma possibilidade da Vida para mim. Sem dever ser. Gesto muitas coisas como trabalho, viagens, amigos, meditação, aventuras impensáveis um dia. A mãe existe em mim com tanta graça e liberdade quanto a não mãe. Aliás, sempre fui mãe dos filhos das amigas, dos sobrinhos, dos afilhados. Literalmente eles me chamavam de mãe. Ganho presentes no dia das mães, às vezes. Na escola meu apelido era mãe.

Por isso, se eu ainda for mãe nessa vida, o baby vai ter um pai que queira ser pai. E se eu for mãe biológica ou não, acho que vou ser uma mãe suficientemente boa. Hummm... acho que já estou virando vovó!