sexta-feira, 16 de abril de 2010

Meu mundo perfeito por Mariana Chetto

Meu mundo perfeito é azul. Tem cheiro de terra molhada e gosto de café com biscoito amanteigado. Tem um rio no fundo do quintal fazendo barulhinho pra passarinho acompanhar.

Meu mundo perfeito tem sessão de cinema às 5 da tarde em plena quarta-feira e não tem domingo, com ou sem Faustão no ar.

No meu mundo perfeito forró é sinônimo de Luis Gonzaga, pé de serra e dois pra lá, dois pra cá. Não tem guitarra, bateria e sei lá mais o que pode-se querer colocar no perfeito som do trio - zabumba, triângulo e sanfona a tocar.

No meu mundo perfeito todo dia é dia de viajar e minha casa é qualquer lugar onde haja coisas para se ver e gente para conversar.

No meu mundo perfeito não tem pagode baiano e que me desculpem os pagodeiros de plantão; não é nada pessoal, mas decididamente no meu mundo perfeito mulher não é “cachorra” e não “desce remexendo até esfregar o chão”.

Meu mundo perfeito tem gargalhada de criança e chorinho de bebê, mas eles dormem a noite toda, desde o primeiro mês, e nunca, nunca acordam de madrugada querendo brincar.

Meu mundo perfeito tem sempre alguém gritando mãe, pedindo colo e se aninhando nos meus braços até cochilar. Aliás, no meu mundo perfeito colo de mãe é sagrado e todo mundo, todo mundo mesmo tem direto a ter um pra chorar...

No meu mundo perfeito tem dias de chuva pra ficar na cama abraçadinho com quem se ama. Quietinho. Coladinho. Só vendo o tempo passar.

No meu mundo perfeito a gente pode comer de tudo sem medo de engordar. Gente bonita é sinônimo de gente feliz e ser feliz é uma decisão a se tomar.

No meu mundo perfeito sempre há tempo para jogar conversa fora, comer brigadeiro de colher, assistir Cocoricó com os filhos, ler livros e mais livros, ver sessão da tarde, novela e noite de luar.

O meu mundo perfeito tem um rapaz companheiro, uma mãe divinal, um pai protetor, duas irmãs cúmplices, dois sobrinhos amorosos, alguns amigos leais e dois filhos celestiais.

E para terminar; meu mundo perfeito não teria, em hipótese alguma, limite de linhas, e eu então poderia escrever sobre ele até toda vontade acabar.

Meu mundo perfeito por Alba Querino

Dirijo, olho o mar, procuro meu mundo perfeito. Começo a tecer o texto inúmeras vezes, as memórias aflorando. Pois é! Meu mundo perfeito caiu.

Sensação estranha, frustrante, incômoda. Só então, a liberdade que foi deixar essa perfeição cair! Ai, que alívio! Olho o mar de novo. E as flores em Salvador, até parecendo primavera, todo mundo florindo! O mundo perfeito é o que aí está. Que aí É. Tão paradoxal, com seus terremotos, sua fome, suas gripes, suas guerras santas. Seus dias 11... É que a miopia da gente não deixa ver a perfeição na imperfeição.

É uma explosão de cores, coisas acontecendo ao mesmo tempo! Um turbilhão de desejos sendo pensados, sentidos, nesse mundo enorme! É uma flor se abrindo, uma criança perguntando, construindo suas idéias. São milhares de pessoas olhando o sol se pôr aqui, e outras vendo o sol nascer do lado de lá... Gente descobrindo quem é verdadeiramente, a que veio nesse mundo. O lado feio iria se dissolver rapidinho...

Ah... meu mundo perfeito seria todo mundo usando o óculos da beleza pra mudar o foco da visão e se espantar com a perfeição que já existe.