sábado, 13 de agosto de 2011

Sobre o Amor e tantas outras coisas...


                                                     Amor nas mãos

Quando chegam as datas comemorativas, chega junto a felicidade temática. As pessoas voltam o pescoço para o calendário e resolvem amar. Amam nas datas. Os filhos amam os pais no dias dos pais e as mães no dia das mães. Os pais amam os filhos no dia das crianças e saem para comemorar e lhes entregam super brinquedos. Os casais se amam no dia dos namorados, a família se abraça no Natal e a caridade aparece nos lares. Nos aniversários, quando lembrados, as pessoas telefonam, desejam muitas felicidades, saúde e paz, nessa ordem. Nos casamentos, quanto maior a grinalda e a pompa, mais amor...E o amor cumpre a sua função social. Vejam o quanto amo! Olhem! Percebam as provas de amor que damos um ao outro!

O tamanho e a profundidade do amor nos presentes, nas datas temáticas...E assim, as pessoas vão amando. De data em data comemorativa, de felicidade em felicidade temática. Nas palavras, nos cartões, nos versos com as mais bonitas rimas enlevadas.

Sinto que amor tem mais a ver com ações no dia a dia que palavras e datas. Palavras são voláteis, elas dizem no tempo em que podem ser ouvidas. Palavras. O amor de palavras. E no cotidiano, o amor das justificativas: não posso, não tenho como, estou super ocupado, o telefone não atende, tento e não consigo, é que a faculdade, a empresa, o táxi, a faxineira...a casa, o carro, o cachorro...a missa de sétimo dia...Depois, depois, depois...e fica-se com o amor de palavras. Mas amor de palavras não nutre. Não enxerga o essencial.

Compreendo que a vida urge, é preciso fazer dinheiro, é preciso ganhar tempo, é preciso vestidos e carros, ações na bolsa, é preciso tanta coisa, que amar concretamente seja bem difícil.

Criam-se, então, os espaços tecnológicos do amor, onde somos todos muito amáveis, muito felizes, maravilhosos, cheios de inspiração e sabedoria a respeito da vida. Uma beleza passear nas redes e tanta amorosidade, tanta companhia...tanta palavra...e tantas fotos dos nossos momentos: Vejam, como amamos tanto! Vejam todos, quanto mais gente melhor, mesmo que não troquemos uma só palavra nessa amizade virtual toda nossa, mesmo que nem sequer nos conheçamos, faça parte da minha rede e veja como somos amorosos, felizes, prósperos, como a vida vale a pena!

A gente se vê através da tela. Seja ela a do computador, da televisão, do cinema. A gente se ama através das telas e nas telas, na vida dos outros, na ficção.

É preciso mais amor do que as palavras podem oferecer. Do que as imagens podem captar. É preciso o amor das entrelinhas. Afagos nos abismos. Amor lanterna das sombras de cada um. Amor presente, mesmo que seja na interrogação que precede a ausência das palavras. Amor de fato. Amor de abraço, do lado a lado, amor que acredita no pedido dos olhos do outro. Amor que recebe e dá também. Dá, chega junto. Acha tempo, vontade, sensibilidade para ver através da janela florida.

Nem só de pão vive o homem. Nem só de pão e nem só de palavras. Até mesmo porque o delator sempre será amordaçado. Ele incomoda, ele range os dentes e deixa as palavras sem lugar de se tornarem tão belas molduras. O delator deve enlouquecer, fracassar, ir embora ou morrer. Mas ele tem que sair da foto. Ele tem que sair da fotografia de paisagem tão bela.

Sinto que amor é além das palavras. Nas ações cotidianas, corriqueiras, no olhar. Amor que responde sim e não, concretamente, que atua, que acode, que vê onde as palavras não podem chegar. Pois, dizer, se diz qualquer coisa quando se quer. Se diz sabendo e se diz sem saber.

Sinto que amor pede muita coragem. Amar pede coragem, sensibilidade e força. É isso mesmo, força e sensibilidade! Estamos muito acostumados com o amor como sendo algo piegas, bonitinho, enrolado pra presente. O que ouço, vejo e sinto é que amor é forte como uma raiz profunda que segura o tronco que brota a copa cheia de flores e frutos doces...alguns nem tanto, mas frutos. E o amor lá, raiz, procurando água, descendo fundo escavando a terra, sustentando a árvore apesar dos ventos, das chuvas, do sol a pino. Amor. E amor é raiz de flor frágil também. Raiz sensível, que nutre a flor que se abre por um dia e numa lufada de vento se vai arrancada pelo mau tempo. A raiz está lá, forte e frágil, densa e fininha, mas raiz que alimenta, que escava a terra, que atua para a beleza se mostrar. Por centenas de anos ou por um só momento. A raiz se aprofunda para a beleza se mostrar.

Contudo, é mais fácil viver de felicidade em felicidade temática, de data em data comemorativa. De justificativas bem lógicas para explicar porque não amo agindo, só amo falando. Tantas coisas a fazer, mesmo que se percam rapidamente no instante em que a vida cessa. Mesmo que tudo isso fique a espera de nem sei quem para vir buscar, ou envelheça sem uso, ou se perca no tempo, tudo isso aí de que me ocupei por tantos anos. Tantas coisas a fazer. Pouco tempo para amar. Poucos olhos para ver e poucos ouvidos para escutar. Pouco coração para sentir.

A natureza faz a sua parte. Ela não para. O tempo passa.
Amor pode fazer falta.

Vamos esquecer as religiões, esquecer as doutrinas. Esquecer as teorias, a ciência e os dogmas.  Esquecer todos os discursos. Sem valor as explicações sobre o além, sobre como se processa fisiologicamente o amor, como se deve ser bom, sabido e falador do amor, quando não se ama. Nada disso traz o Amor, são apenas notícias do que ele poderia ser. Nem sempre é amar.

Na terra do Amor, onde a raiz rompe e penetra, não existem explicações. Fale quando tiver que falar, ouça o que precisa ouvir, mas acima de tudo, exista no Amor agindo diariamente, além das datas e convenções. Além das palavras. 

Eita, escrevi um monte!! Paradoxos...rsrsrsrs

Por Alba.