quarta-feira, 19 de maio de 2010

Quem tem medo do general, general, general?


Eu tenho. (risos)

O general é o meu lado mais difícil. Aquele que é indomável, assim meio mandão. Me leva a fazer coisas, falar de um jeito que eu não gosto muito. Meu general é cheio da bossa, tem opiniões formadas, tenho que lembrá-lo, suavemente, que as pessoas podem pensar diferente... Se tivesse uma nacionalidade seria uma mistura de italiano com americano. Pragmático e teimoso.

É um pouco implicante, gosta das leis, impaciente e sente uma certa dificuldade para desculpar. E para dizer que tem essa dificuldade também.

Meu general tem uma personalidade forte e aparece nas horas em que é necessário controle, rapidez, racionalidade e frieza. Acontece que, se eu der corda, ele quer ficar pro almoço, e aí, não pode.

Já briguei muito com ele, por muitos anos. Primeiro achava que ele não existia. Era uma lady, uma doce criaturinha meiga, chamada de Chanel na faculdade. Como poderia ter um general? Tão maternal...

Depois, mais tarde, comecei a enxergar ele em algumas outras pessoas. Claro, não gostava. Era sempre alguém que tinha esse general petulante, arrogante, mandão, lá. No outro. Lá, bem longe. Vamos evitar essas pessoas general, ou combatê-las. Mas quem combatia os outros generais? Quem?

Um belo dia, aos 20 e poucos anos, essa pergunta começa a ser respondida. Muito choro, muita dor, muita surpresa. Eu? Um general? Esse ser habita em mim? Mas, vejam bem, só um general descobre outro.

Alguns anos de terapia, investigação pessoal, observando... descobrindo a história do milico... Como nasceu, onde, quando resolve sair da toca e atacar. Como funciona. Quem era. Muitas discussões com ele, negações, sofrimento. Porque ao lado do general tinha a não aceitação da existência do general. Se pudesse, ele não existiria e tudo seria bom no Reino das Águas Claras de Lobato.

Só pude encontrar meu general devido a uma forte situação e necessidade emocional que se seguiu: a morte do meu pai. Interessante, não?! A morte é generosa...

Como não queria escutá-lo por acreditar desde criancinha que generais são cruéis, não são cristãos e devem ser amortecidos, ele teve que gritar alto durante algum tempo. Ele surgia do nada e quando menos esperava, saltava pronto a trabalhar. Olhava para ele assustada, e queria esconder aquele rapaz de qualquer jeito em algum lugar. Engolí-lo, talvez. Levei uns bons anos fingindo que ele não existia. Tapando a boca do general.

Comecei a perceber que me perdia, me derramando em bondade, em concessões. Ficava desanimada (no sentido de sem anima mesmo, sem alma). Sem energia, sem risada, sem paixão. Perdia a minha forma, uma parte da essência. Como poderia sentir o sabor doce, sem o salgado, o amargo e o sem sabor?


Outro momento espelho, espelho meu, e outra descoberta importante. O general não é de todo mal. Comecei a perceber os seus motivos, a sua função na minha vida.

O meu general me ensina a sobreviver. A dar limites e receber limites (porque só um general respeita outro general). Ele sabe enxergar o perigo, analisar rapidamente e criar as estratégias de salvação.

Vi vários tipos de generais por aí (expostos, dissimulados, atabalhoados e bufões, tirânicos, religiosos).Vi um general ativando outro general. Vi a falta que um general faz. Vi ele diminuindo de tamanho, inclusive. Como tinha medo dele, e então apagava a luz da consciência para não ver, ele se mostrava bem maior do que realmente era. Mais feio, mais monstruoso. Vi, inclusive, a necessidade das qualidades dele para a vida funcionar no seu cotidiano, como realizar metas, ganhar dinheiro, cumprir prazos, lidar com relações de poder, trabalhar, reconhecer embusteiros e algumas ciladas. Vi ele dar socorro, não se desesperar e se perder nas emoções.

Vi a compaixão que mora no coração do general.

Ainda me vejo negociando com ele, (re)conhecendo a sua presença. Ele é um amigo da minha história, esse general.

E vocês, TPMs, também possuem um general parte de vocês, ou algum outro personagem que tenha dado trabalho?


Alba Querino

6 comentários:

Carla Palmeira disse...

caracaaaaaaaaa! Adorei! viuxi...pensarei nisso! kkkk

Giovana disse...

Uau!Nesta vc foi longe...Será que eu tenho um general? Acho que só em minha casa mesmo...rs rsrs

Alba Querino disse...

risos!! mas é em casa que ele, o danado, aparece mesmo...rsrsrs

b. disse...

hahahaha... 'Será' que vc tem um general, mãe?

Drix disse...

Adooorei o tema, pq me sinto tão generalzinho... Bom, acho que fui até bem suscinta na explicação do MEU..mas é como se ele fosse EU..24h por dia. Mas no íntimo sei que ainda sou o que "onde vc se perdia": muitas concessões e muita bondade. Quero não! Enfim...é papo viu? Ótimo tema Alba... (você gosta mesmo de queijo coalho ne?? hahah)

Alba Querino disse...

risos...sem comentarios Adriana Favilla!