terça-feira, 18 de maio de 2010

Ser ou não ser? por Alba Querino


Ser ou não ser... eis a questão... Shakespeare, e agora?!
Ser ou não ser mamãe... um processo esse dilema dos dias atuais.
As mulheres se sentem fadadas a serem mães ainda hoje. Mas uma reportagem como essa é muito interessante porque permite à mulher não-mãe se expressar. As outras formas-mulher também são possíveis e possivelmente felizes.

É, Mari, eu concordo em número, gênero e grau com você. Não li a Muito, mas já gostei a partir do que você escreveu, da coragem de permitir às mulheres tantos papéis quanto elas queiram e a liberdade de escolher esses papéis com consciência.
Um bebê precisa de consciência. Precisa de alguém que se conheça e não repita cegamente a sua infância novamente, naquela criaturinha tão bela, tão inocente e tão devoradora. Uma criança é devoradora também, e isso não lhe tira a beleza. Devoradora de peitos, de atenção, de tempo, de carinho. E com legitimidade.
Tem uma autora, Elisabeth Badinter, que escreveu um livro fantástico a respeito da maternidade: O Mito do Amor Materno. É um soco no estômago a sua leitura. Ela fala de como a maternidade é uma construção cultural.

Eu concordo, em parte. Leia o livro, vai... vale a pena repensar...

Percebo a força da cultura na grande interrogação que vem sempre antes quando você ainda não teve filhos. Você não é uma pessoa boa, amorosa? Você é frustrada? Você é feia? Você não consegue um pai? O que há com você, mulher, que você não pariu? Não produziu filhos? Principalmente se você é casada. Existe aquele olhar perguntador...hã, hum, bem...cadê as crianças? Quando elas virão? Elas virão, não é? Ah, não faça isso...

Uma mulher pode gerar outros projetos, outras pessoas, outros sentimentos, outros nascimentos, sim. E é verdade que se conhecer bem para saber se você é mãe em seu coração é um bom caminho para poder ser MÃE do baby. Sem culpas, sem dar de mamar pensando no peito que pode cair e não será tão sexy depois (o que também não concordo, acho que um peito mamado conta uma história, e essa coisa plástica desses balões sempre para cima são uma ilusão perversa, mas isso é para outro post! Aliás, tem sempre tem um outro post nascendo).

Fase um: Uma mãe que pode perder noites e amanhecer sorrindo, uma mãe que tem tempo para conversar, cantar aos berros dentro do carro com os vidros bem abertos ou fechados; Que se deixa ser maquiada de noite depois de chegar do trabalho, cansada, e ficar com uma cara de vampira no final, e achar lindo! Uma mãe que come os restinhos de cada um e termina por não pedir o seu próprio bigmac. Uma mãe que pula na corrida de saco domingo de manhã na gincana da escola. Que põe em cheque a sua relação brigando com o parceiro por causa da coisa egoísta dele quando não quer deixar o menino dormir só hoje na cama entre a gente. Uma mãe que vai para a reunião do trabalho com as unhas pintadas de vermelho pela filhotinha aprendiz de manicure. Uma mãe que vai levar para tomar vacina e que chora só por causa daquela picadinha infeliz que aquela monstra da enfermeira deu no seu filho.

Fase dois: Uma mãe que viaja com as filhas adolescentes e volta a lembrar quando ela também suspirava com músicas românticas. E uma mãe que adoraria se seus filhinhos amados sumissem de vez em quando, só para ela poder não ser mãe por 15 minutos, enquanto ela se refaz. Mas não mais que isso. Uma mãe que agüenta a famosa fase de feder do filho adolescente que não quer tomar banho, não quer curar o chulé, não quer sair do banheiro há uma hora. Que gasta 1/5 do salário dela com telefonemas, e que ama o computador, a prancha de surf, o game e a mãe do colega mais que tudo! É eles amam as mães dos outros por um tempo...

Uma mãe, é uma mãe, é uma mãe... seja biológica, adotiva, tia, madrasta, vovó, dinda ou babá-mãe. Com vinte, trinta, quarenta ou cinqüenta anos. É uma mãe.

E uma mulher que escolhe não ser mãe é uma mulher verdadeira também, porque sabe seus limites, sabe ser mãe de si mesma.

Tem aquelas que não são mães, não porque não queriam, mas porque não aconteceu... Por diversos motivos que só a Existência sabe... e aí, é uma dor se ela se identifica com a ilusória família feliz da propaganda de margarina. Porque uma família é muito bom, mas não é de propaganda de margarina. A gente se desentende. A gente quase se esgana, de mentirinha, claro! Mas se esgana e a barriga ferve, quando as coisas acontecem de verdade.

Se a gente não pode ser mãe por causa da vida e não pelo desejo de não ser, é bom relaxar e aproveitar essa oportunidade de poder ter escolhas, outras funções além da maternidade. É escolher poder ser feliz. Ser feliz além do script. Não gosto dos scripts que se escrevem para todo mundo e quem não está nele é anormal, tem inveja ou engorda. Parece sutiã com número errado! Não. Ser livre para ser seu eu mesma é a escolha de maior felicidade que a gente pode se dar. É o rugido do leão quando descobriu que não era ovelha. Um rugido maravilhoso, uma energia só.

Pessoalmente, sempre quis ser mãe. Igual a Dri. Até descasei porque eu e meu amado nos desencontramos nesse desejo, na época. Mas sempre pensei que criança não precisa de marido nem de esposa, mas precisa de mãe e pai.

Hoje, é uma possibilidade da Vida para mim. Sem dever ser. Gesto muitas coisas como trabalho, viagens, amigos, meditação, aventuras impensáveis um dia. A mãe existe em mim com tanta graça e liberdade quanto a não mãe. Aliás, sempre fui mãe dos filhos das amigas, dos sobrinhos, dos afilhados. Literalmente eles me chamavam de mãe. Ganho presentes no dia das mães, às vezes. Na escola meu apelido era mãe.

Por isso, se eu ainda for mãe nessa vida, o baby vai ter um pai que queira ser pai. E se eu for mãe biológica ou não, acho que vou ser uma mãe suficientemente boa. Hummm... acho que já estou virando vovó!

2 comentários:

Evie disse...

Binha, o blog está ótimo! Vcs estão de parabéns! O seu texto, amiga, é de uma sensibilidade enorme. Vc entende do riscado de ser mulher, independente de ter gerado um filho ou nao. Concordei demais com vc em vários trechos do texto. Adorei qdo vc falou que peito mamado conta uma história! Gente, como isso é verdade! Concordo também que Guga tem várias mães...Tava pensando nisso hoje. Na cabecinha dele, ele tem a mim, a Tia Evelyn e Ni - a babá, a quem ele chama de Mamãe Ni. É lindo isso! Adorei quando vc falou sobre ser feliz além do scrip! Fantástico. É o que todos nós, inclusive aqueles que cumpriram com o script, devemos buscar. Afinal, até pros casados, com filhos, casa, cachorro, papagaio, o scrip não existe. É uma farsa. A felicidade as vezes surge da transgressão de tudo isso. Tou lembrando da peça a Alma Imoral que trata com muita sabedoria tudo isso.
Enfim, adorei o seu texto e fiquei com saudades dos nossos papos. Beijo enorme!

Alba Querino disse...

Ô Evie amada!! Amei seu comentário...é isso que você escreveu mesmo do script...e Guga deve tá uma coisinha...venha sempre e espalhe o blog por aí, seja também uma tpm! rsrsrs